Tarde de Domingo.

Estava ali, parada na janela, vendo a movimentação, enquanto dentro daquele quarto de hospital, cinco adultos discutiam sobre como fazer para transferir meu avô para sua cidade.
Meu avô com o semblante mais corado olhava pra mim e perguntava o que tanto olhava para fora, e eu dizia que era pra ver a movimentação, e que dali dava pra ver coisas muito legais, como o Centro Cultural São Paulo e vários barzinhos da Vergueiro.
Coisas se passaram em minha mente, lembranças de minha infância, de quando era pequenina e não tinha conhecimento de quão grande era à cidade em que morava, de quantas coisas belas e fúteis existiam nela.
Foi incrível, porque não tinha conhecimento daquelas memórias, nem me lembrava daquela noite de domingo, quando estávamos todos sentados em roda, junto a meu avô e ele nos contava aquelas histórias horripilantes.
Lembrei-me de coisas que nem significavam mais pra mim, de pessoas que nem lembrava mais e de palavras que confortavam nossos corações quando algo dava errado, naquele momento senti um arrepio na barriga e olhei para o relógio, já eram 16 horas e acabara nosso horário de visitas, quando me despedi de meu avô, senti um frescor, como sentia quando criança.
Era um frescor suave de carinho, amor e compreensão e no momento da partida, tornei a meu avô e disse "Eu te amo", foi uma frase espontânea, mas com uma intensidade diferente, era mais real que o sobrenatural e desde então me sinto mais leve e tranqüila.